Mais de 200 espécies de plantas terão nomes científicos alterados para retirar expressão racista

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Erythrina caffra. Foto: Pixabay/banco de imagens

Mais de 200 espécies de plantas terão seus nomes científicos alterados por conta de um termo racista. É a primeira vez que uma mudança na nomenclatura botânica é motivada por razões políticas e sociais, em vez de científicas. A decisão foi tomada em julho, durante o Congresso Botânico Internacional, realizado em Madrid

Tradicionalmente, os nomes científicos são estáveis, servindo como um registro histórico das espécies. Contudo, desta vez, os botânicos optaram por modificar o termo “caffra”, presente em várias plantas originárias da África, para “affra”. Alegando um “erro de grafia”, os pesquisadores explicaram que o nome anterior derivava de “Kaffir”, termo considerado ofensivo na África.

Originalmente, o termo era uma palavra árabe usada para descrever não muçulmanos e, ao longo do tempo, passou a designar escravos africanos. No sul da África, o uso é punido com multas e até prisão.

Segundo reportagem do The New York Times, a partir de 2026, a árvore coral da costa, por exemplo, será renomeada de Erythrina caffra para Erythrina affra. A proposta de mudança foi aprovada com uma votação de 351 a 205.

Mudança dividiu opiniões

A decisão gerou controvérsias. É a primeira vez que botânicos decidem alterar um nome por uma questão social. Até então, alterações em nomes científicos ocorriam apenas em revisões nas pesquisas originais que determinam a origem. 

Além das plantas, debates sobre nomenclatura têm se intensificado na ciência. Insetos como as “mariposas-ciganas” e as “formigas-ciganas”, por exemplo, tiveram seus nomes alterados devido a conotações negativas para o povo cigano. 

Fred Barrie, botânico do Field Museum em Chicago e membro do comitê editorial do Código Internacional de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas, disse ao jornal americano The New York Times que “a estabilidade é importante na nomenclatura botânica e alerta que mudar milhares de nomes de espécies se tornará “um pesadelo impraticável”.

Sergei Mosyakin, presidente da Sociedade Botânica Ucraniana, declarou ao Times que existem milhares de nomes de espécies de plantas com palavras que são ou podem ser consideradas ofensivas para alguns grupos de pessoas e alerta que a discussão pode ser apenas o começo. 

No reino animal, espécies como o besouro Rochlingia hitleri e a mariposa Hypopta mussolinii, que homenageiam Adolf Hitler e Benito Mussolini, respectivamente, ainda mantêm suas denominações.

No caso das plantas, os críticos explicam que a decisão é complexa, pois não afeta apenas uma espécie, mas centenas. Ou seja, seria necessário mudar o nome de centenas de plantas que já possuem esse histórico. 

Para prevenir futuras controvérsias, um comitê de ética será instituído para revisar as nomenclaturas de novas espécies a partir de 2026.

Fonte: GZH

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